domingo, 9 de junho de 2013



PARA O MEU NETO
(porque hoje só tenho esta prenda para lhe dar)
 
"de tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver o poder agigantar-se nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude e a ter vergonha de ser honesto"

Ruy Barbosa





"Fomos descobrir o mundo em caravelas e
regressamos em traineiras. A fanfarronice
de uns, a incapacidade de outros e a
irresponsabilidade de todos deu este
resultado: o fim sem grandeza de uma
grande aventura. Metade de Portugal a ser
o remorso da outra metade."

Miguel Torga


Há dois anos a esta parte, sou confrontado sistematicamente com uma caterva de opinadores que teimam em convencer-me que vivi "acima das minhas possibilidades" que não posso ter um Serviço Nacional de Saúde que o acesso à escola pública não é um direito e de que não sou "proprietário" da minha pensão.
Nas últimas eleições legislativas, o meu País escolheu votar nos dois partidos mais à direita do espectro político. Um designado social-democrata (entrementes tomado por "mercenários" a soldo das políticas neoliberais) e um outro, outrora democrata-cristão que viu finalmente chegada a hora da concretização do projecto do seu líder quando o converteu em Partido Popular.
Chegados ao poder, conquistado de forma ilegítima ( propondo soluções paradisíacas logo trocadas por ataques ao funcionalismo público, à escola pública e ao serviço nacional de saúde) cedo nos disseram ao que vinham. Empobrecimento das classes trabalhadoras, destruição da economia, emanação de leis inconstitucionais, numa palavra alteração do regime.
Dando corpo a uma cartilha com origem, algures, nos meandros da GOLDMAN SACHS e afins, assumiram de forma despudorada o papel de verdadeiros COBRADORES DE FRAQUE.
Não será certamente por acaso que são conhecidos pelo capital financeiro especulativo, por BONS ALUNOS.
Arruínam o País a cada dia que passa. Destroem emprego e empresas a um ritmo que alguma vez conhecemos em tempo de guerra.. Violam a lei fundamental, confiscam pensões. Atiram a geração mais jovem contra os mais velhos, criando aquilo que tão bem e de forma seráfica, foi caracterizado pelo ex-democrata cristão e agora líder popular, por CISMA GRISALHO.
A par da alucinação vertiginosa das medidas que tomam, sucedem-se os opinadores de serviço à causa. Têm por missão transportarem-nos para a realidade virtual.
Como resultado desta minha convivência forçada com essa gente, acabei por encontrar em quase todos eles um denominador comum. Em boa parte são oriundos das ex-colónias, ou têm laços familiares e interesses comuns.
Esta particularidade, fêz-me recuar trinta e tal anos no tempo e reflectir sobre o que se disse e escreveu sobre esta matéria. Concluí que estou a ser vítima de vingança e muito ressentimento. Muita desta gente tornou-se numa CASTA. Casta ao serviço dos interesses financeiros especulativos e, foi esta CASTA que tomou o poder. Não é de forma inocente que o seu ministro das finanças afirmou que "não fui eleito coisíssima nenhuma ".
 
 
 
 
Aterrado fiquei ainda com a reflexão premonitória de Natália Correia, quando escreveu :
 
 
"A maior influência dos retornados na sociedade portuguesa vai dar-se quando os seus filhos crescerem e tomarem o poder. Preparem-se porque vão fazê-lo!"

Natália Correia

Como complemento desta reflexão, recomendo a leitura do texto em baixo e publicado por:

MariaNJardim


"O novo documentário da equipa responsável por Dividocracia chama-se Castastroika e faz um relato avassalador sobre o impacte da privatização massiva de bens públicos e sobre toda a ideologia neoliberal que está por detrás. Catastroika denuncia exemplos concretos na Rússia, Chile, Inglaterra, França, Estados Unidos e, obviamente, na Grécia, em sectores como os transportes, a água ou a energia. Produzido através de contribuições do público, conta com o testemunho de nomes como Slavoj Žižek, Naomi Klein, Luis Sepúlveda, Ken Loach, Dean Baker e Aditya Chakrabortyy.

De forma deliberada e com uma motivação ideológica clara, os governos daqueles países estrangulam ou estrangularam serviços públicos fundamentais, elegendo os funcionários públicos como bodes expiatórios, para apresentarem, em seguida, a privatização como solução óbvia e inevitável. Sacrifica-se a qualidade, a segurança e a sustentabilidade, provocando, invariavelmente, uma deterioração generalizada da qualidade de vida dos cidadãos.
As consequências mais devastadores registam-se nos países obrigados, por credores e instituições internacionais (como a Troika), a proceder a privatizações massivas, como contrapartida dos planos de «resgate». Catastroika evidencia, por exemplo, que o endividamento consiste numa estratégia para suspender a democracia e implementar medidas que nunca nenhum regime democrático ousou sequer propor antes de serem testadas nas ditaduras do Chile e da Turquia. O objectivo é a transferência para mãos privadas da riqueza gerada, ao longo dos tempos, pelos cidadãos. Nada disto seria possível, num país democrático, sem a implementação de medidas de austeridade que deixem a economia refém dos mecanismos da especulação e da chantagem — o que implica, como se está a ver na Grécia, o total aniquilamento das estruturas basilares da sociedade, nomeadamente as que garantem a sustentabilidade, a coesão social e níveis de vida condignos.

Se a Grécia é o melhor exemplo da relação entre a dividocracia e a catastroika, ela é também, nestes dias, a prova de que as pessoas não abdicaram da responsabilidade de exigir um futuro. Cá e lá, é importante saber o que está em jogo — e Catastroika rompe com o discurso hegemónico omnipresente nos media convencionais, tornando bem claro que o desafio que temos pela frente é optar entre a luta ou a barbárie."

















terça-feira, 10 de julho de 2012

DOIS ANOS DEPOIS




DOIS ANOS DEPOIS


Já tens dois anos quem diria. Só hoje notei que nada aqui escrevi neste último ano. E tanto haveria para dizer.
Magoado com tudo que me têm feito: humilhações, afrontas, confiscos, empobrecimento e malfeitorias, também fui acusado de "ter vivido acima das minhas possibilidades".Talvez tenham razão.... terão?
Quando desaparecido não restará quem te conte as minhas humildes origens.Comecei a trabalhar aos 10 anos de idade e iniciei a minha carreira contributiva para a Segurança Social aos 14 como previa a lei.
Fui criado e cresci numa "ilha", numa casa com 12 metros quadrados. A higiene era praticada num espaço comum que possuía uma retrete e um chuveiro e a temperatura da água acompanhava a das estações do ano.
Por volta dos trinta comprei um terreno e fiz, aí sim, uma casa. Comprei um carro e no fim de cada ano de labor partíamos para férias. Para as melhores férias da minha vida. E tudo isto porque entretanto aconteceu ABRIL.Sinto que estou chegando ao Outono da vida. A minha geração vai-se extinguindo, está a ser substituída. É o chamado ciclo vital. Entretanto o meu País foi invadido por uma caterva de gente sem ideal. Sem pingo de amor pátrio. Usam as pessoas de forma descartável. Vestem-se de negro. Usam gravatas monocolores e quando abrem a boca são incapazes de pronunciar um discurso sem a introdução duns quantos estrangeirismos. Chamam-se pomposamente de neo-liberais.
Quando comparam os tempos de hoje com os da década de quarenta e cinquenta do século passado e as condições de vida de uns e outros tempos, concluem que os portugueses de agora vivem acima das suas possibilidades. Daí o afã  dos seus lacaios espalhados por todos os púlpitos, incumbidos de fazer passar a mensagem da desgraça , de dizer a todos que o caminho da salvação e os sorridentes amanhãs só virão se voltarmos a empobrecer.
Portanto é no actual contexto que vens crescendo e somando anos à tua vida. Não poderia esquecer este teu dia. Não sei se voltarei a viver um outro qualquer ABRIL, MAS UMA CERTEZA  TENHO, PARA TI ESTARÁ RESERVADO UM. AINDA MAIS BELO E DEFINITIVO. Parabéns e um forte carinho do BU.



sexta-feira, 5 de agosto de 2011

UM ANO DEPOIS






































Fomos ao teu Baptismo um ano depois de teres nascido. Emocionados por assistir-mos extasiados a cada centímetro do teu crescimento. Já nos olhas nos olhos. Gatinhas e brincas até te esgotares de cansaço. Cansados também nos deixas! Mas tão felizes que adormecemos a imaginar ver-te sorrir no dia seguinte. Há uma semana que resolveste fazer férias em casa dos avós maternos e nunca uma semana foi tão longa como esta está a ser. Brevemente vamos retomar os nossos passeios e ter aquelas "conversas" que só tu neste mundo entendes.






Parabéns neste teu 1º aniversário e também pelo teu Baptismo, dia que significa a tua entrada na casa do Senhor, aquele que amiudades vezes o avô te aponta na parede e que estou certo te acompanhará a vida inteira.






Oxalá para o próximo ano eu possa repetir e manifestar neste blogue os sentimentos que todos temos por ti.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

DITADURA VERSUS DEMOCRACIA



Na época da Ditadura podíamos acelerar os nossos "carochas" acima dos 120Km/h sem o controlo de radares e das câmaras de vigilância,



mas não podíamos falar mal do Presidente.






Podíamos ter vinhas de americano no quintal, empestar o galinheiro sem que isso constituísse crime ambiental,



mas não podíamos falar mal do Presidente.






Podíamos ir para os copos após o expediente sem o risco de sermos atirados à vala da delinquência,



mas não podíamos falar mal do Presidente.






Não usávamos eufemismos hipócritas para nos referirmos a raças, a credos e preferências sexuais e não éramos processados por isso,



mas não podíamos falar mal do Presidente.






Íamos a bares,cafés e restaurantes, cujas mesas mais pareciam fumarolas de vulcão, tantos eram os fumadores e nem por isso éramos driscriminados,



mas não podíamos falar mal do Presidente.






Jorrávamos frases simpáticas e atrevidas à menina que cobrava a conta ou à recepcionista , sem medo de processo judicial por assédio,



mas não podíamos falar mal do Presidente.






Hoje a única coisa que podemos fazer é falar mal do PRESIDENTE !



Que merda de Democracia!






quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O QUE PRECISAS SABER


Vieste quando tinhas que vir.
Aproveitas-te uma cálida tarde de Julho para soltar os teus primeiros sons.
Fizeste de mim avô.
Apanhaste-me mais maduro, mais reflexivo, sobre a vida e sobre o tempo que me trouxe até aqui.
Como eu gostaria da oportunidade de ser o pai que se não consegue ser na vintena de anos.
Ajudar-te com os anos já vividos a perceber tudo e todos que te rodeiam.
Ensinar-te a acreditares em ti quando todos de ti duvidarem.
Quando enganado não mentir ao mentiroso.
Se te encontrares um dia com o Triunfo ou a Derrota trata esses dois impostores da mesma maneira.
Quando quiseres agradar a alguém que te mereça consideração procura dar uma boa imagem de ti próprio, ao invés, na presença dum espírito mesquinho dá-lhe uma imagem favorável dele mesmo.
Quando fores capaz de ler este texto vais perceber que existem três formas de ignorância:
Ignorar o que se deveria saber, Saber mal o que se sabe e saber o que não se deveria saber.
Vais aprender que existem pessoas cujos defeitos lhe ficam bem; e outras que são infelizes com as suas qualidades. Contudo descobrirás que há pessoas desagradáveis, apesar das suas qualidades e outras encantadoras apesar dos seus defeitos.
Sentirás que não há disfarce capaz de ocultar o amor quando ele existe, nem de o simular quando está ausente.
Descobrirás que uma boa esposa é um grande consolo para o homem em todos os contratempos e dificuldades- que ele nunca haveria de ter se continuasse solteiro.
Saberás que a poucos homens é dado saber rectificar os erros que cometem. Aprende com eles.
Ouvirás falar de pecados. Recorda aqueles que são responsáveis pelas injustiças sociais:
Riqueza sem trabalho;
Prazeres sem escrúpulos;
Conhecimento sem sabedoria;
Comércio sem moral;
Política sem idealismo;
Religião sem sacrifício;
Ciência sem humanismo;
Soube da minha experiência que o uso de sentenças latinas, ditos históricos, versos célebres, brocados jurídicos, e máximas, é de bom aviso trazê-las contigo para os discursos de sobremesa, de felicitação ou e agradecimento.
Não desistas nunca, mesmo que sintas que o mundo à tua volta está prestes a ruir.
Aos 66 anos de idade incomoda-me o tempo que passa. Começo a ficar farto :
"de tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a rir-se da honra, a desanimar-se da justiça e a ter vergonha de ser honesto."
Porém estas palavras te deixo:
"Maior que a tristeza de não haver vencido é a vergonha de não ter lutado"

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

AVÔ - UM PAI QUE SE DESDOBRA





Cuidando ainda de UM, com as mesmas angústias e preocupações.

Sentindo da mesma forma os sucessos e inêxitos.

Partilhando gostos, sonhos e fantasias e vivê-los, como se de meus se tratassem.

Mostrar-lhe o mundo que vejo e sinto.

Adormecer só depois de todos já dormirem.

Sonhar o amanhã que tarda a chegar.

É este o Pai do Pai, do neto que chegou!

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

PROSA POÉTICA


Como uma desgraça nunca anda só!

Juntamo-nos.

Mastigamos a prosa dos outros sem nunca abdicarmos da que nos é própria!

Fizemos juntos o que a cada um pertencia por inteiro.

E quando insatisfeitos com o trabalho produzido,

Engravidámos responsabilidades

Que o ventre de cada um era chamado a gerar!

Largamos as ideias, como quem larga filhos na roda!

Encontrámo-las hoje, adultas, indiferentes,

Quão indiferente foi a sua paternidade!

Dizem-nos que os efeitos,

São o produto das causas!

Paradoxalmente os efeitos,

São os nossos propósitos

E as causas somos nós!

Como é possível aquecermos os outros

E mantermo-nos indefinidamente frios,

Como catedrais aquecendo a alma dos crentes

E vestindo sempre as gélidas roupagens de granito.

Não me atreveria a reflectir em nós tamanha monumentalidade!

Porém que dizer, quando nos comparamos com a microscópica imagem dos que nos cercam!

Quando digo cercam, faço-lo porque me sinto incomodado,

Tal como incomodado se sente o elefante rodeado de pulgas.

Nascemos para viver?

Acho que não.

Vivemos para concluir como e para que haveríamos de nascer!

Ao teu espírito volátil,

Tenho emprestado o elemento vivificador da chama que arde em ti!

E eu, como a videira a quem religiosamente pelo Inverno cortam as cepas,

Disponho-me a dar na colheita seguinte, mais e melhor.

Sou quando sou,

O néctar que, galopando na tua alma, te faz rir e zombar dos deuses do olimpo.

Elevamos ao êxtase o sublimado das nossas reflexões.

E aí quando já nada nem ninguém nos acompanha,

Sentamo-nos nas asas do vento e vamos ao encontro da nossa autenticidade.

Não é isto que sentimos quando olhamos o mundo a partir dos píncaros

Das montanhas durienses?

Sentes ou não vontade

De deixar correr sobre a toalha líquida do Douro

Pedaços de ti?

E quão maravilhoso seria reagrupares-te de novo

à entrada do oceano!

Encontares a Atlântida e recomeçares outra vêz.

Sabes como eu ,que é necessário falar de alguém

Ou a alguém,

Quando pretendemos falar com nós próprios.

Espero que esta prosa te dê essa possibilidade.

Sinto que a dureza e agressividade

Que a cada passo põem à minha volta

Me fazem mal!

Obrigaram-me desde cedo a deixar de ser criança.

E, quando homem , castigaram-me por ser poeta!

Para mim só existem duas formas de viver a vida,

Brincando e amando!

Não suporto a mecanização da alma e

A prosa tecnocrática!

Acho que um homem que não recorda com alegria as suas meninices

Tem no peito uma pedra

E na cabeça argamassa!

Assim como não aceito

Deixar de ver em cada novo dia,

Um hino à vida,à luz, à cor,ao sol, à água,

Aos meus filhos!

Vivemos rodeados de sombras.

Só sabemos que existimos porque nos beliscamos.

E imagino quanto sofrimento

Vai naquele que não encontra na vida inteira,

A sua complementaridade.

Alguém com quem partilhar

A razão da sua existência.

Saudades sinto das sinfonias de azul

Ouvidas em terras transmontanas.

Mas acredito que é esta esperança

De renascer a cada dia e a cada ano

Que me faz sentir, apesar de gasto, usado, cansado,

Violentado, agredido e expoliado,

O menino de outrora.

Olhar vivo,

Cabelos ao vento,

Sedento de curiosidade.

O coração numa mão na outra a alma.

Empurraram-me o coração para o fundo do peito.

Jogaram salpicadelas de ácido

Sobre o meu espírito.

Até à consumação existencial

Darei por arte ou por engenho um pouco de mim.

Que imodéstia dirão.

Porque não falar de mim falando de ti ou vice-versa.

E ao fazê-lo, deixar claro quem sou e quanto valho,

Porque ao fazê-lo ninguém nos questiona.

Ninguém arrisca a ser a bitola pela qual o outro se mediu!

Que mais repugnará?

A afirmação do valor pela sobranceria

Ou o rastejar pegajoso à procura dum nivelamento

Que não existe?