PARA O MEU NETO
(porque hoje só tenho esta prenda para lhe dar)
"de tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver o poder agigantar-se nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude e a ter vergonha de ser honesto"
Ruy Barbosa
"Fomos descobrir o mundo em caravelas e
regressamos em traineiras. A fanfarronice
de uns, a incapacidade de outros e a
irresponsabilidade de todos deu este
resultado: o fim sem grandeza de uma
grande aventura. Metade de Portugal a ser
o remorso da outra metade."
Miguel Torga
Há dois anos a esta parte, sou confrontado sistematicamente com uma caterva de opinadores que teimam em convencer-me que vivi "acima das minhas possibilidades" que não posso ter um Serviço Nacional de Saúde que o acesso à escola pública não é um direito e de que não sou "proprietário" da minha pensão.
Nas últimas eleições legislativas, o meu País escolheu votar nos dois partidos mais à direita do espectro político. Um designado social-democrata (entrementes tomado por "mercenários" a soldo das políticas neoliberais) e um outro, outrora democrata-cristão que viu finalmente chegada a hora da concretização do projecto do seu líder quando o converteu em Partido Popular.
Chegados ao poder, conquistado de forma ilegítima ( propondo soluções paradisíacas logo trocadas por ataques ao funcionalismo público, à escola pública e ao serviço nacional de saúde) cedo nos disseram ao que vinham. Empobrecimento das classes trabalhadoras, destruição da economia, emanação de leis inconstitucionais, numa palavra alteração do regime.
Dando corpo a uma cartilha com origem, algures, nos meandros da GOLDMAN SACHS e afins, assumiram de forma despudorada o papel de verdadeiros COBRADORES DE FRAQUE.
Não será certamente por acaso que são conhecidos pelo capital financeiro especulativo, por BONS ALUNOS.
Arruínam o País a cada dia que passa. Destroem emprego e empresas a um ritmo que alguma vez conhecemos em tempo de guerra.. Violam a lei fundamental, confiscam pensões. Atiram a geração mais jovem contra os mais velhos, criando aquilo que tão bem e de forma seráfica, foi caracterizado pelo ex-democrata cristão e agora líder popular, por CISMA GRISALHO.
A par da alucinação vertiginosa das medidas que tomam, sucedem-se os opinadores de serviço à causa. Têm por missão transportarem-nos para a realidade virtual.
Como resultado desta minha convivência forçada com essa gente, acabei por encontrar em quase todos eles um denominador comum. Em boa parte são oriundos das ex-colónias, ou têm laços familiares e interesses comuns.
Esta particularidade, fêz-me recuar trinta e tal anos no tempo e reflectir sobre o que se disse e escreveu sobre esta matéria. Concluí que estou a ser vítima de vingança e muito ressentimento. Muita desta gente tornou-se numa CASTA. Casta ao serviço dos interesses financeiros especulativos e, foi esta CASTA que tomou o poder. Não é de forma inocente que o seu ministro das finanças afirmou que "não fui eleito coisíssima nenhuma ".
Aterrado fiquei ainda com a reflexão premonitória de Natália Correia, quando escreveu :
"A maior influência dos retornados na sociedade portuguesa vai dar-se quando os seus filhos crescerem e tomarem o poder. Preparem-se porque vão fazê-lo!"
Natália Correia
Como complemento desta reflexão, recomendo a leitura do texto em baixo e publicado por:
MariaNJardim
"O novo
documentário da equipa responsável por Dividocracia chama-se Castastroika e faz
um relato avassalador sobre o impacte da privatização massiva de bens públicos
e sobre toda a ideologia neoliberal que está por detrás. Catastroika denuncia
exemplos concretos na Rússia, Chile, Inglaterra, França, Estados Unidos e,
obviamente, na Grécia, em sectores como os transportes, a água ou a energia.
Produzido através de contribuições do público, conta com o testemunho de nomes
como Slavoj Žižek, Naomi Klein, Luis Sepúlveda, Ken Loach, Dean Baker e Aditya
Chakrabortyy.
De forma deliberada e com uma motivação ideológica clara, os governos daqueles países estrangulam ou estrangularam serviços públicos fundamentais, elegendo os funcionários públicos como bodes expiatórios, para apresentarem, em seguida, a privatização como solução óbvia e inevitável. Sacrifica-se a qualidade, a segurança e a sustentabilidade, provocando, invariavelmente, uma deterioração generalizada da qualidade de vida dos cidadãos.
As consequências mais devastadores registam-se nos países obrigados, por credores e instituições internacionais (como a Troika), a proceder a privatizações massivas, como contrapartida dos planos de «resgate». Catastroika evidencia, por exemplo, que o endividamento consiste numa estratégia para suspender a democracia e implementar medidas que nunca nenhum regime democrático ousou sequer propor antes de serem testadas nas ditaduras do Chile e da Turquia. O objectivo é a transferência para mãos privadas da riqueza gerada, ao longo dos tempos, pelos cidadãos. Nada disto seria possível, num país democrático, sem a implementação de medidas de austeridade que deixem a economia refém dos mecanismos da especulação e da chantagem — o que implica, como se está a ver na Grécia, o total aniquilamento das estruturas basilares da sociedade, nomeadamente as que garantem a sustentabilidade, a coesão social e níveis de vida condignos.
Se a Grécia é o melhor exemplo da relação entre a dividocracia e a catastroika, ela é também, nestes dias, a prova de que as pessoas não abdicaram da responsabilidade de exigir um futuro. Cá e lá, é importante saber o que está em jogo — e Catastroika rompe com o discurso hegemónico omnipresente nos media convencionais, tornando bem claro que o desafio que temos pela frente é optar entre a luta ou a barbárie."
De forma deliberada e com uma motivação ideológica clara, os governos daqueles países estrangulam ou estrangularam serviços públicos fundamentais, elegendo os funcionários públicos como bodes expiatórios, para apresentarem, em seguida, a privatização como solução óbvia e inevitável. Sacrifica-se a qualidade, a segurança e a sustentabilidade, provocando, invariavelmente, uma deterioração generalizada da qualidade de vida dos cidadãos.
As consequências mais devastadores registam-se nos países obrigados, por credores e instituições internacionais (como a Troika), a proceder a privatizações massivas, como contrapartida dos planos de «resgate». Catastroika evidencia, por exemplo, que o endividamento consiste numa estratégia para suspender a democracia e implementar medidas que nunca nenhum regime democrático ousou sequer propor antes de serem testadas nas ditaduras do Chile e da Turquia. O objectivo é a transferência para mãos privadas da riqueza gerada, ao longo dos tempos, pelos cidadãos. Nada disto seria possível, num país democrático, sem a implementação de medidas de austeridade que deixem a economia refém dos mecanismos da especulação e da chantagem — o que implica, como se está a ver na Grécia, o total aniquilamento das estruturas basilares da sociedade, nomeadamente as que garantem a sustentabilidade, a coesão social e níveis de vida condignos.
Se a Grécia é o melhor exemplo da relação entre a dividocracia e a catastroika, ela é também, nestes dias, a prova de que as pessoas não abdicaram da responsabilidade de exigir um futuro. Cá e lá, é importante saber o que está em jogo — e Catastroika rompe com o discurso hegemónico omnipresente nos media convencionais, tornando bem claro que o desafio que temos pela frente é optar entre a luta ou a barbárie."